quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Uma breve reflexão sobre o TDAH.

Eu sempre tento evitar entrar nas discussões sobre o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade; esta postura já gerou críticas como a possibilidade de eu não acreditar em tal diagnóstico, dentre outras, entrentanto minha questão não passa por aí, pelo contrário passa muito longe.

Acabei de ler na revista VEJA, a entrevista de uma colega psiquiatra que é portadora de TDAH, a entrevista é interessantíssima, porém( creio por questão de espaço) fica altamnete atrelada ao perfil biológico da doença, chega em alguns momentos a citar a questão da relação dos fatores ambientais com o transtorno e se torna um pouco enxuta ao falar da questão da hipermedicalização. Penso que muitas vezes, nós, psiquiatras ao falarmos sobre os transtornos mentais, principalmente sobre este recente "fenômeno diagnóstico", esqucemos de tratar a grande questão social, e digo isso, sem me remeter a questão de pirâmide social dividida entre classes econômicas, mas sim da questão do traço, das características do arranjo da sociedade, aonde o TDAH se insere, tanto que o diagnóstico, de forma bastante interessante, evolui conforme a evolução dos traços da sociedade moderna para pós-moderna, da mudança do caráter coletivo para ocaráter individualista da sociedade atual, da constante perda de normas e parâmetros refernciais na família e na escola (áreas aonde o prejuízo funcional do TDAH se tornam mais claras), a nossa sociedade perdeu os parâmetros relacionados as estruturas,digamos, hierárquicas das instituições, basta ver o adoecimento progressivo dos professores, a questão cada vez mais presente do bullying ( no filme brasileiro Pro Dia Nascer Feliz, há um relato de uma menina que esfaqueia a colega de turma por tê-la barrado em sua festa), o número de informações circulantes é imenso e facilmente acesado por todos, por isso me preocupa, quando nós médicos estamos altamente aderidos ao discurso cientificista e sua segurança, e esquecemos de analisar o caráter da sociedade em que um trantorno se insere e consequentemente deve influenciar a nossa avalição diagnóstico, para que não possamos correr os riscos de perder o mais rico do cuidar do outro. Sugiro aos nossos leitores o livro: Somos Todos Desatentos? trata muito bem esta questão da inserção deste diagnósitco no contexto de nossa sociedade.

Rodrigo Nogueira Borghi é Médico Psiquiatra e Diretor Clínico do Mental Medical Barra.

Nenhum comentário: