segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Voltando a questão do suicídio.









Não fiquei satisfeito com minha última intervenção sobre suícidio, por isso acessei meu acervo bibliográfico sobre o tema. Achei este livro interessante sobre a abordagem desta questão na história das ciências, este livro aborda o apoderamento do suicídio pelo discurso médico no século XIX, e mostra como cada médico produzia uma visão peculiar sobre o tema, e ainda muito mais peculiar era abordagem não médica dos séculos anteriores. O autor tenta algumas vezes no livro, mostrar exemplos de célebres suicidas e outros nem tanto assim, um dos exemplos refere-se ao vocalista da banda Nirvana (acima sua "carta de despedida"), na maioria dos exemplos citados, não consegui de fato descolar os episódios de suícido de uma associação com uma patologia mental (evidente que não me resumi ao raciocínio cartesiano, de que a patologia mental sem os fatores sócio-ambientais seria a única causadora do suicídio). No caso de Kurt, além de dependente químico, ao se fazer uma clara leitura de seus escritos, é claramente observável que o mesmo possui Distimia, um transtorno mental caracteizado por uma depressão crônica e leve.

Tentei buscar outras situações de suicídio, aonde a patologia mental não estaria presente; pensei no clássicos "ARAKIRIS", o suicídio na cultura japonesa, mas logo me vem a associação com a reação aguda ao stress, até agora o que me veio a mente, foi o suicídio de Getúlio Vargas, que talvez por falta de dados pessoais, não consiga vincular a uma patologia mental, porém não se pode negar que foi uma brilhante estratégia política. Outro tema importante foi a apreensão do suícidio pelo discurso preventivista, fato que se encontra mais recente na nossa história, considerando que tentamos estudar sempre as intervenções nos múltiplos fatores que interferem n patologia com o intuito de prevení-la. Importante ressaltar que hoje sabemos que o suicídio tem uma etiologia multifatorial, conhecemos os fatores de risco para que tal ato ocorra, mas sabemos que não é 100% evitável as mortes pelo suicídio, por isso este bom livro, traz  tona que muito ainda precisa ser discutido sobre o tema.

Rodrigo Nogueira Borghi é Médico Psiquiatra e Diretor Clínico do Mental Medical Barra.

O Solista - Filme







Continuando nossa busca pelos fenômenos psicopatológicos ou sintomas, encontrei neste filme uma excelente demonstração dos fenômenos psicopatólogicos clássicos da esquizofrenia: as alucinações auditivas, a pubicação do pensamento, alterações da consciência do eu, atitudes bizarras, ecolalia, fuga de idéias, afrouxamento de nexos associativos. Todos estes sintomas pode ser vistos neste bom filme. Sem esquecer que o filme mostra a péssima assistência em saúde que marca a sociedade americana e o contato com uma espécie de serviço comunitário filantrópico de assistência a saúde mental, que se "embola" com a assistência social a moradores de rua, inclusive esta "embolação" é um claro defeito do filme, e um claro defeito da visão da nosssa sociedade que associa diretamente os graves casos de transtorno mental com a questão dos moradores de rua, por isso cuidado com as frases finais do filme.

Rodrigo Nogueira Borghi é Médico Psiquiatra e Diretor Clínico do Mental Medical Barra

sábado, 7 de novembro de 2009

Complementando o artigo de um amigo.

Reproduzo na íntegra, o artigo do blog do meu amigo Dr. Paulo Issa:

Nota Zero para Folha de São Paulo

7 de novembro de 2009
Estou no último dia do Congresso Brasileiro de Psiquiatria.
Peguei para ler o jornal ¨Folha de São Paulo¨ no saguão do hotel e me deparo com a seguinte manchete:
¨Vasco não deve ter seu torcedor ilustre no jogo histórico de hoje¨.
Fui ler a notícia e o tal ¨torcedor ilustre¨ era o indivíduo que tentou se suicidar no ano passado, no fim do jogo quando o time de futebol do clube Vasco da gama, foi rebaixado para 2a.divisão !
Ou seja, uma tentativa de suicídio é vista como um ato ¨ilustre¨ !?!  E com direito ainda de se tornar uma ¨celebridade¨(o jornal apresenta uma foto grande e colorida deste torcedor e traz uma matéria somente sobre ele).
Você pode imaginar agora, o que deve se passar na cabeça de milhares de outros torcedores, que já se agridem e matam uns aos outros, como prova de ¨amor¨ ao clube: ¨Tentar se suicidar é uma bela chance para ganhar uma bela reportagem no jornal¨.
Lamentável.
--
Dr. Paulo André Issa
NEUROPSIQUIATRIA INFANTIL E ADULTO
Barra - Copacabana - Campo Grande
(21)8834-5010 / 2415-0255 / 3474-7020

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Minha complementação se faz por ter participado de grupos de estudos importantes sobre o tema. As pesquisas brasileiras recentes estudam a relação da mídia e do seus impactos sobre as taxas de suicídio, e existem exemplos importantes desde filmes que abordam o suicídio de estrelas tentando trazer um certo charme ao ato, passando por vídeoclipes e por livros biográficos, ou não, como o caso do vocalista do Nirvana, Kurt Cobain.

Por isso, meu amigo, não será nem a primeira e muito menos a última vez que veremos isso na mídia, que como você já disse é lamentável, mas exige da ciência uma resposta breve e eficaz.

Rodrigo Nogueira Borghi é Médico Psiquiatra e Diretor Clínico do Mental Medical Barra.

A "Epidemia" do Crack

A dependência do Crack tão complexa de tratar, não parece tão difícil de explicar. Como diria Galeano, o que se chamava de capitalismo, e que agora é chamado de "economia de mercado" fez o seu eterno papel, e jogou no mercado pobre, uma droga barata, mas angustiante, já que seu efeito é extremamente fugaz, esta droga é o Crack, que em poucos anos se apoderou das camadas pobres da sociedade e avança em níveis galopantes para a classe média e muito em breve para clase média-alta e classe alta de nosso país; motivos não faltam para explicar tal avanço, o crack é uma droga extremamente barata para quem a produz, ou seja é um produto excelente para o mercado atual, já que possui um custo baixo na sua linha de produção, garantindo sua alta lucratividade direta ( através de sua venda) e indireta (alimentando o "mercado da violência" e garantindo lucro para os países que vendem armas,por exemplo), além deste detalhe seu efeito corresponde a estratégia de todos os produtos que se jogam no mercado, possuem efeitos altamente fugazes, o que faz com que a necessidade de seu consumo seja alto, ou seja, a droga perfeita para uma "sociedade líquida" como diz o sociológo Bauman; e uma droga relativamente barata para quem a compra, digo relativamente, já que como o seu efeito é rápido comparado a outras drogas ílicitas, muitas vezes o custo do consumo do crack pode se equivaler ao custo do consumo de outras drogas. Por quê então o aumento do consumo de crack, se economicamente seu impacto fianceiro não se difere de outras drogas? a resposta é simples, e traz de volta a questão da sociedade líquida, marcada pelo individualismo, consumismo e imediatismo, então pode-se pensar que não se busca o crack somente pelos seus efeitos químicos que aplacam a angústia, a fome, a solidão e etc..., mas também pelo seu efeito psicológico, sendo asim se esta droga tem efeito rápido, o indíviduo tem a necessidade de comprá-la novamente em um espaço curto de tempo, aplacando esta angústia que marca a sociedade pós moderna de consumir em grende escala e consumir sempre. No próximo artigo sobre crack, vamos discutir sobre outra questão em voga, no momento, o tratamento desta dependência, sabendo de antemão, depois do que foi dito aqui, que as dificuldades do controle do consuma desta droga, não se dá só em relação a dificuldade do tratamento e sim a interação de múltiplos fatores.

Rodrigo Nogueira Borghi é Médico Psiquiatra e Diretor Clínico do Mental Medical Barra.